Os scammers em ação nas mídias sociais
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As mídias sociais e os sites de namoro, onde as pessoas oferecem informações sobre sua vida pessoal, são o hábitat natural dos golpistas virtuais.
Os sites de namoro parecem ter consciência do papel não intencional que exercem nas fraudes românticas. Esses sites costumam se eximir de qualquer responsabilidade por perfis falsos que possam aparecer. Exigindo anonimato para falar, um executivo de um desses sites disse ao HuffPost que os sites combatem os scammers sub-repticiamente. Eles bloqueiam usuários que desconfiam que sejam scammers, sem os informarem disso. Criam uma "experiência de usuário simulada", deixando o scammer pensar que está mandando mensagens a pessoas que simplesmente não estão respondendo. Qualquer dinheiro desembolsado é devolvido sem alarde ao cartão de crédito (presumivelmente roubado).
Em seu relatório de 2012 sobre golpes românticos virtuais, Monica Whitty, a ciberpsicóloga, teceu críticas aos sites de namoro online. Ela recomendou aos sites que postem avisos e informem os usuários sobre os sinais para os quais devem ficar atentos, dizendo que os sites não devem temer a possibilidade de perderem usuários desse modo. "Os clientes precisam ser plenamente informados sobre esse golpe antes de começarem a utilizar sites de namoro online", ela disse. "Descobrimos que o fato de ter sido vítima de um golpe online não impede a vítima de querer usar sites de namoro online, mas a leva a não usar mais o site no qual foi 'atacada'. É preciso dizer claramente ao usuário: se uma pessoa não quiser se encontrar cara a cara com você no primeiro mês do relacionamento, desista dela e procure alguém que queira!"
Alguns sites monitoram as atividades fraudulentas melhor que outros. O aplicativo de namoro Zoosk, que tem 40 milhões de perfis online e possui membros em 80 países, deixa o cliente fazer um vídeo de seu rosto com o app. Um moderador humano assiste ao vídeo e o compara às fotos enviadas ao site. Mas os scammers ainda podem se esconder entre a maioria dos membros que não utiliza essa opção: apenas 7 milhões de clientes até agora se deram a esse trabalho.
"As pessoas querem uma experiência leve e prazerosa", explicou Daniel Mori, representante do Zoosk. "Querem conhecer pessoas e começar um namoro em pouco tempo." O desafio, disse ele, é "conservar o ecossistema o mais limpo possível sem pedir muito esforço aos clientes."
O Facebook, de longe a maior rede social do mundo, é também um verdadeiro parque de diversões para scammers. Muitas vítimas de golpes românticos online disseram ao HuffPost que o Facebook não faz o suficiente para identificar e bloquear os fraudadores.
Um representante do Facebook, Pete Voss, disse que o site "reconhece o risco de elementos mal-intencionados tentarem enganar as pessoas. Estamos adotando uma abordagem em várias frentes para ajudar a mitigar esses riscos."
Segundo ele, o Facebook usa "uma combinação de sistemas automatizados e manuais para bloquear contas utilizadas para fins fraudulentos. Aperfeiçoamos esses sistemas constantemente para melhor identificar comportamentos suspeitos. Nossos sistemas de segurança operam no segundo plano milhões de vezes por segundo para captar e remover ameaças. Prevenimos grande número de casos por dia em que contas teriam sido comprometidas."
A empresa se negou a dar detalhes sobre seus sistemas de mitigação de riscos ou a informar quantos sites comprometidos são flagrados. O Facebook pede aos usuários que denunciem posts ou mensagens que lhes peçam para compartilhar informações pessoais de modo inapropriado ou a mandar dinheiro. Voss se negou a informar o número de denúncias que o site recebe.
A questão da responsabilidade das redes sociais, incluindo o Facebook, em possibilitar a ação dos scammers é algo que preocupa muitas vítimas. Ruth Grover, do ScamHaters, acha que o Facebook poderia policiar seu site de modo mais cooperativo. Ela disse que a gigante das mídias sociais às vezes fecha páginas de defesa de vítimas, que frequentemente postam fotos de supostos golpistas, mas deixa abertas páginas para intermediários financeiros, mesmo quando eles "promovem crimes impunemente".
"Não deveríamos estar tendo que fazer esforços maiores que o Facebook para combater estelionatários digitais", disse Grover.
O Facebook se negou a responder a perguntas sobre seus critérios gerais para a remoção de páginas ou sobre por que deletou alguns sites específicos, mas indivíduos parecem estar usando seu site para aplicar golpes financeiros.
O HuffPost encontrou o seguinte grupo público no Facebook no dia 7 de junho. Nele, pessoas parecem estar fazendo tráfico de números de cartão de crédito e contas bancárias. Ao longo de algumas horas, o site ganhou quase mil membros. Quando o site foi denunciado, o Facebook o tirou do ar.
O Facebook se negou a comentar sobre aspectos específicos dessas capturas de tela. No caso da primeira, em que há números de contas de WhatsApp visíveis e parece que seriam usados para a compra e venda de informações financeiras roubadas, o Facebook – que é dono do WhatsApp – não quis responder a perguntas sobre se transmitiu essas informações à polícia, se retirou os perfis das pessoas que postaram na rede ou se sequer notificou o WhatsApp que algumas de suas contas podem estar sendo usadas para possíveis atividades ilegais.
Pete Voss, do Facebook, disse: "Estaos sempre à procura de irregularidades no comportamento de determinadas páginas e domínios no Facebook. Por exemplo, quando uma pessoa recebe um pedido para incluir alguém como amigo, nossos sistemas são designados para verificar se o destinatário do pedido já tem um amigo desse nome, além de vários outros fatores que nos ajudam a determinar se a interação é genuína. É uma área que procuramos constantemente melhorar, para que possamos proporcionar às pessoas uma experiência segura no Facebook."
Voss também chamou a atenção para a página de informação pública sobre golpes virtuais mantidas pelo site, em especial golpes românticos.
O FBI disse que não comenta as políticas e práticas de empresas privadas, e um representante do Departamento de Justiça disse que não discute publicamente as estratégias usadas para processar acusados de cometer estelionato virtual.
Jones, o hipnoterapeuta cujas fotos são regularmente tiradas do Facebook para ser usadas em golpes, argumenta que, se o site realmente se esforçasse, poderia acabar com o problema.
"Talvez seja um problema de desconhecimento", ele disse ao HuffPost. "Se o Facebook soubesse de fato quanta devastação está acontecendo – essas mulheres sendo roubadas de não sei quanto dinheiro por ano, em todo o mundo --, acho que resolveria o problema amanhã."
Mas Phil Tully, cientista sênior de dados no grupo ZeroFox, de segurança digital e nas mídias sociais, disse que é impossível para um site de mídia social detectar todos os scammers, porque as táticas e os próprios scammers mudam com tanta frequência. Ele acha que os grandes sites usam programas que frustram os golpes virtuais preventivamente, reduzindo o risco em que os usuários incorrem. Mesmo assim, a ZeroFox fez um estudo de golpes virtuais na Instagram no ano passado e descobriu que três vezes mais golpes estavam sendo criados do que os que estavam sendo eliminados.
A tecnologia ajuda o golpista precavido
Uma vez definidas suas vítimas, os scammers podem lançar mão de aplicativos e outras ferramentas digitais criadas para proteger a privacidade e segurança dos internautas, usando-os para se proteger e evitar serem flagrados.
Cada artefato digital ligado à internet possui um endereço de Protocolo da Internet (IP), um conjunto de números único que revela, entre outras informações, o país em que o artefato está ligado à rede. Qualquer pessoa pode verificar um endereço de IP, se bem que algumas extensões de navegadores enviem um alerta quando alguém o está fazendo. Assim, os scammers precavidos usam uma rede virtual privada para esconder seus endereços de IP.
Os scammers gostam de tirar suas conversas com suas vítimas do Facebook ou dos serviços de namoro online e transferi-los para outras plataformas de mensagens onde podem organizar todas suas comunicações sem que as vítimas saibam. Segundo Grover, do ScamHaters, e autoridades policiais, os golpistas virtuais têm preferência por aplicativos como Viber, WhatsApp e Kik.
Deixar o Facebook o quanto antes também protege o golpista contra o risco de seu perfil falso ser denunciado e tirado do ar. Se isso acontecer, disse Grover, o scammer pode explicar o que aconteceu, dizendo à vítima que foi vítima de hacking ou que o "departamento de segurança de sua empresa" o obrigou a tirar seu perfil do Facebook. "Mas todos eles ainda têm as vítimas no Kik. Eles não as perdem", disse Grover.
Os scammers nunca querem aparecer em um bate-papo ao vivo com vídeo, mas às vezes enviam um vídeo previamente gravado para mostrar que são pais amorosos ou que ficam belos no comando de seu veleiro (é claro que também esses vídeos são roubados). Sites como Manycam.com permitem que vídeos previamente gravados sejam passados em webcams ao vivo. Existem muitos vídeos no YouTube que ensinam como fazer. E, segundo Christine Beining, do FBI, isso aumenta a credibilidade do golpe.
O serviço Virtual Cam Whores, que cria vídeos customizáveis, também pode acrescentar autenticidade ao golpe. O usuário pode manipular o avatar na câmara de modo que a imagem que aparece na tela da outra pessoa pareça estar reagindo ao que a pessoa está dizendo. Por exemplo, se a vítima pede um beijo, o scammer pode comandar a imagem na tela e fazer com que ela jogue um beijo.
Mesmo assim, argumentariam alguns, como é possível que tantas pessoas confundam um vídeo previamente gravado com uma cena mostrada por uma webcam ao vivo? A resposta não poderia ser menos técnica: é preciso que a vítima esteja disposta a suspender seu ceticismo.