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sábado, 19 de julho de 2014

Scammers atraem mulheres pela internet para dar golpe

Scammers atraem mulheres pela internet para dar golpe

iG Paulista - 09/12/2013 - 09h44 |
Marcelo Rocha | igpaulista@rac.com.br
Mag Harry alerta sobre os scammers: eles têm uma lábia muito boa
Foto: Del Rodrigues/ AAN
Mag Harry alerta sobre os scammers: eles têm uma lábia muito boa
Você sabe o que é um romance scammer? É mais uma das muitas armadilhas que proliferaram nas redes sociais. Nessa modalidade de crime digital, golpistas criam falsos perfis no Facebook para seduzir mentes e corações de mulheres com o intuito de lhes arrancar boas quantias de dinheiro.

Muitas internautas que morderam o “anzol” scammer acumulam decepções, traumas e, em alguns casos consumados, prejuízos financeiros.

Existem até casos de suicídio. Para combater a prática, na web até já existem grupos organizados de “caça-scammers”.

Militares condecorados, advogados de prestígio e engenheiros bem-sucedidos em viagem pelo exterior, especialmente na Europa.

Homens de boa retórica, encantadores, normalmente viúvos ou divorciados, pais de belas e doces crianças e dispostos a relacionamentos sérios visando a constituição de uma nova família.

É assim que se apresentam os scammers: em perfis “fakes”, que além de currículos fantasiosos incluem fotos roubadas aleatoriamente na web.

A maioria das vítimas é mulher, mas existem também casos de homens que caíram no conto do vigário, diz uma pensionista piracicabana de 61 anos, que utiliza o pseudônimo de Mag Harry. Ela quase foi vítima de um scammer.

“Eles têm uma lábia muito boa e alguns demoram até cinco meses para dar o golpe”, fala.

“Eles dizem que estão em alto mar, em navios militares, que são turistas que estão presos na alfândega, que a mulher morreu de câncer, ou desastre, ou que o filho está doente. A vítima normalmente está apaixonada e aí é a hora que eles dão o bote”, conta Mag Harry.

O scammer que tentou fisgar Mag Harry dizia que era um advogado formado na Universidade de Oxford, na Inglaterra, e que morava em Londres.

Foram três meses de conversa, enquanto a piracicabana era envolvida pelo ‘Don Juan digital’.

Ela, porém, suspeitou quando o golpista disse que a filha necessitava passar por uma operação no coração, que ele teria que vender o carro e que iria para a Índia, aonde seria realizada a cirurgia. Como o dinheiro estaria indisponível temporariamente, ele pediu que ela depositasse o valor numa empresa que realiza transferências de dinheiro internacional, mas que logo depois ele a reembolsaria.

Mag Harry, já desconfiada, disse que não tinha dinheiro.

“Ele ainda tentou, veio com um papo de que foi roubado na África”, ela recorda. Depois, ela deletou o galanteador.

O scammers não aparecem de jeito nenhum em webcams, não se interessam pela intimidade da vítima, só conversam “in-box” (no Facebook) e não dizem palavrões, conta Mag.

Caça

As funcionárias pública Meg e Crystal Brasil - que moram nos Estados de São Paulo e Mato Grosso, respectivamente - são duas “caça-scammers”.

Com pseudônimos, elas criam blogs e grupos de discussão em sites de relacionamento para combater os scammers.

A guerra entre scammers e e seus caçadores acontece no front do anonimato.

E a web, o solo fértil para os golpistas, também vira palco para a sua “captura”.

As exterminadoras de scammers criam perfis falsos para atrair os criminosos.

No blogs dedicados a desmascarar scammers acontecem postagens diárias de perfis de golpistas, a publicação de e-mails falsos e a divulgação das mensagens mais utilizadas nas trapaças.

No blog criado por Crystal há, por exemplo, o seguinte depoimento de um scammer: “Eu sou um oficial americano militar de plantão aqui no Afeganistão. Tenho 57 anos. Eu sou viúvo com um filho. Minha mulher morreu há alguns anos num acidente de automóvel.O nome do meu filho é Berry e ele estuda línguas estrangeiras no Reino Unido”.

“Ensinamos as pessoas a não caírem nos golpes. O problema é que estamos lidando com 100 milhões de scammers no mundo”, diz Meg.

Ela se deparou pela primeira vez com um scammer há uns cinco anos. “Tinha ficado viúva e uma amiga me sugeriu entrar num site de relacionamentos. Mas logo desconfiei”.

Segundo a “caça-scammers”, os principais polos do crime estão localizados na Nigéria, em Gana e na Malásia.

Hierarquia

De acordo com Meg, na Nigéria os scammers operam num sistema bem hierarquizado. Na base estão crianças de 12 a 14, os chamados “peons” (peões), que disparam os e-mails, produzidos em larga escala na base do CTRL C + CTRL V.

Acima deles estão os “managers” (gerentes), de aproximadamente 18 anos, que entram em cena quando a vítima já mordeu a isca e demonstrou interesse.

O terceiro nível hierárquico é ocupado pelos “boss” (chefes), jovens de 22 a 25 anos que em casos de dificuldades do “manager” entram em ação para investir sobre a vítima.
No topo da pirâmide está o “dindy dad”, a última instância formada por aqueles acima dos 30 anos.

“Esses são muito bravos, ameaçam a vítima de morte, por U$ 50 matam muito fácil. Por isso nós os caçamos escondidas”, conta Meg. “Estou jurada de morte por um ‘dindy dad’”, revela.

Estrago emocional

O ataque, além de financeiro, é emocional, pois muitas vítimas ficam devastadas após caírem na cilada.

Há relatos impressionantemente fortes em blogs ou fóruns no Facebook como o Brazilian Group Anti-Scammer.

“A mulherada do Brasil está caindo, e infelizmente nós temos dois casos de suicídio relacionados a isso”, lamenta Meg.

No mais recente, uma mulher que enviou R$ 80 mil ao scammer estava extremamente envergonhada pois havia perdido a casa e caído em depressão.

“Foi suicídio, ela jogou o carro de uma ponte numa velocidade razoável”, conta Meg.
Ela cita que já recebeu casos de médicas e engenheiras que perderam mais de R$ 200 mil. “É assustador”.

Uma vítima escreveu num grupo de discussão: “Esta história mudou a minha vida. Depois do que aconteceu, não consegui mais ser a mesma. Tomei decisões que nunca pensei que tomaria... fiz escolhas que nunca pensei que pudesse fazer... senti o que pensei que nunca sentiria... e vivi... estou sobrevivendo e agora sem nenhuma ilusão ou ingenuidade... me tornei astuta e perspicaz...”.

Origem histórica

De acordo com a caça-scammers Meg, esse tipo de crime tem origem nos anos 1920, na Espanha, quando presos escreviam cartas à população inventando histórias que suas prisões eram injustas e infundadas, e pedindo ajuda. A sociedade, então, começou a se mobilizar para arrecadar dinheiro para libertá-los.

Na década de 70, o golpe (ainda via cartas) começou a ser repetido na Nigéria. E quando surgiu a internet, nos anos 90, a máfia nigeriana se apossou da nova ferramenta para sofisticar seus crimes.

Modalidades

Além do romance scammer, há outras modalidades de contravenções digitais. Essas normalmente sugerem que a vítima inicialmente realize depósitos para, depois do investimento, obter lucros expressivos.

Uma delas é a chamada “net of skin”, na qual o criminoso informa que a vítima seria beneficiária de uma herança desconhecida.

Outro truque é aquele de uma viúva rica que está bastante disposta a investir seu dinheiro em causas sociais.

O golpe da loteria também é figurinha fácil, e costuma ser enviado a e-mails informando que a pessoa ganhou um prêmio, após ser escolhida de modo aleatório.

A vítima, então, é seduzida a enviar dados pessoais - como CPF, RG, números de contas e senhas - que são utilizadas em compras ou outros crimes.

“A pessoa que manda isso é louca. Numa entrevista, um scammer declarou: ‘só cai quem realmente é muito ambicioso’”.

Polícia

Os crimes praticados pelos scammers podem ser denunciados na Polícia Federal.

Pelo e-mails crime.internet@dpf.gov.br e mail-abuse@cert.br
é possível relatar e denunciar as mensagens falsas disparadas por scammers.

De acordo com Meg, em caso de perda de dinheiro significativo quem comanda a investigação é o FBI, por meio de seu site www.ic3.gov/default.aspx

Os blogs http://meg-golpistasvirtuais.blogspot.com.br ehttp://forascammer.blogspot.com.br contêm dicas para identificar scammers, as mensagens mais comuns utilizadas pelos golpistas, fotos utilizadas em falsos perfis e relatos de vítimas do crime virtual, entre outros tópicos.