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terça-feira, 11 de outubro de 2016

Como um grupo de senhoras brasileiras combate uma máfia nigeriana na internet

Como um grupo de senhoras brasileiras combate uma máfia nigeriana na internet

A senhora MN, de 49 anos, tem vergonha de sua última desilusão amorosa. Em julho, um membro do exército americano chamado Glenn Smith a adicionou no Facebook. De pronto, começaram a conversar pelo chat. Glenn pediu desculpas pelo péssimo português; escreveria em inglês e mandaria as mensagens após passar no tradutor. MN não se incomodou. Nem mesmo quando ele errou seu nome.
O militar era viúvo, tinha uma filha e pinta de bonitão nas fotos com uniforme. Na segunda semana de papo já a chamava de “meu amor”. Confessou o cansaço com a guerra na Síria — queria vir se encontrar com ela no Brasil, casar, constituir família. Como prova de amor prometeu enviar joias, celular e perfumes. Para mandar o presente, porém, Glenn precisava de dados como endereço, telefone e CPF da assistente social divorciada. MN fez tudo e, assim que o pacote chegou, descobriu que havia se apaixonado pela pessoa errada.
O americano bonitão era na verdade um scammer — como são conhecidos os operadores de uma máfia de golpistas virtuais baseada na Nigéria que usa milhares de perfis falsos no Facebook. A organização tem um só objetivo: enganar e explorar mulheres carentes.
“Esse é o golpe do pacote”, me disse por telefone quando comentei o caso com Crystal Brasil, conhecida como a maior caçadora brasileira de scammers. “Aí ligam pra ela dizendo que tem coisas proibidas no pacote, que ela precisa pagar para retirar da alfândega, caso contrário será presa.”
Crystal conhece o jogo e lembrava do caso de MN. Há cinco anos no combate a esses criminosos, a mineira divorciada de 55 anos tem uma página no Facebook que é referência para desmascará-los. É um porto seguro das que foram enganadas e esteio de informações de quem quase se deu mal.
“Menino, é um golpe muito covarde. Usa da boa fé, da carência da pessoa, do amor, da solidão, para poder roubar. Eles descobriram que a mulher brasileira adora militar (risos). Não sei por quê, mas que gosta, gosta”, disse a heroína, com sotaque mineiro simpático.
http://motherboard.vice.com/pt_br/read/as-cacadoras-de-scammers